A tabela CÉREBRO

Os peixes têm cérebros pequenos, pelo menos quando comparados com os vertebrados superiores. No entanto, utilizar este facto contra os peixes é tão disparatado como julgar o valor das pessoas apenas pelo tamanho dos cérebros (Gould, 1981).

O que devemos fazer é apercebermo-nos de que o peixe tem o tamanho do cérebro que precisa, e deste modo, a utilização das diferenças de tamanho de cérebro entre as espécies, serve para induzir as diferentes necessidades de cada uma, i.e., no seu nicho (ver Bauchot et al. 1989). A base de dados "tamanho do cérebro" composta por Roland Bauchot e seus colaboradores e gentilmente disponibilizada para incluir nesta tabela da FishBase, permite-nos pensar desta forma. A seguir descrevemos, baseado em Bauchot e Bauchot (1986), como é que esta base de dados foi criada.

Mais de 2800 cérebros de cerca de 900 espécies de teleósteos foram dissecados (ver Figura. 43). Muitos destes peixes foram recolhidos em localidades tropicais e sub-tropicais tais como as Ilhas Havaianas e as Ilhas Marshall; Nova Caledónia; Queensland, Austrália; Filipinas; Sudoeste da Índia; Maurícias e Reunião; Golfo de Oman, Norte do Mar Vermelho; Senegal e Caraíbas, mas também em França e no Atlântico Norte. Todos estes peixes foram pesados e medidos (comprimento standard ou total) antes da extracção dos cérebros. Os cérebros foram cortados ao nível dos primeiros nervos espinhais, as meninges removidas, o cérebro pesado e posteriormente preservado em Bouin.

Caixa 28. Tamanho do cérebro e consumo de oxigénio.

Com uma grande série de dados disponível sobre o tamanho relativo do cérebro, não resistimos a testar algumas hipóteses. A figura 44 mostra uma tentativa de relacionar os dados da tabela CÉREBRO com outros dados de fisiologia, neste caso os da tabela OXIGÉNIO. Ambas as séries de dados contêm medidas individuais de peixes, que se encontram nos dois casos fortemente correlacionadas com o peso.

Deste modo, foi utilizado o declive da relação log-log de consumo de oxigénio vs peso do corpo e peso relativo do cérebro vs peso do corpo(para todos os dados disponíveis), para exprimir os valores individuais independentemente da influência do peso do corpo. Para o gráfico do tamanho do cérebro vs consumo de O2, obtivemos então a média dos valores disponíveis para espécies com pelo menos três registos do tamanho do cérebro e consumo de oxigénio. Apesar de alguma variância, a figura 45 mostra que a hipótese de que cérebros maiores requerem mais oxigénio e que são por isso mais comuns em peixes activos e com elevadas taxas metabólicas não pode ser refutada. Esperamos que a variância seja menor uma vez que a tabela OXIGÉNIO (veja neste volume) seja completamente verificada, e que as suas próprias fontes de variância sejam identificadas.

Rainer Froese e Daniel Pauly

 


Fig. 43. Relação entre o peso relativo do cérebro e o peso do corpo. Pontos claros: todos os registos da FishBase; pontos escuros: tubarões e raias, que possuem cérebros relativamente grandes, possivelmente para sustentar a sua actividade de electro-detecção. Por outro lado, 6 dos pontos sobre a nuvem correspondem a lampreias.


Fig. 44. Consumo de oxigénio vs peso relativo do cérebro em 38 espécies de peixes (Consulte a caixa 28).

Os juvenis têm cérebros relativamente maiores

Como a proporção tamanho do cérebro/peso do corpo é maior nos juvenis do que nos adultos (Bauchot et al. 1979), utilizaram-se essencialmente adultos nas pesagens. No entanto, também foram obtidas séries de dados, desde juvenis a grandes adultos, permitindo assim um estudo ontogenético do tamanho do cérebro.

Os registos obtidos para um peixe, estão aqui apresentados, com o nome corrente das espécies, com os seguintes elementos:

  • peso do cérebro (em mg);
  • peso do corpo (em g);
  • primeiro coeficiente de encefalização (campo calculado= peso do cérebro/peso do corpo, cf Fig. 43);
  • segundo coeficiente de encefalização, para o peso corporal padronizado (campo calculado= (peso do cérebro/peso do corpo)2/3, cf Fig. 44); e
  • comprimento do corpo (SL e/ou TL, em cm).

Os registos são aqui apresentados, para cada espécie, sob a forma de tabela, de uma até 73 linhas.

Futuramente, esta tabela incorporará mais de 200 registos com os nomes das espécies, que até agora foi impossível de relacionar com o nome válido da FishBase. Um dos nossos elementos (James Albert) do Departamento de Anatomia, Nippon Medical School, em Tokyo está a desenvolver esta tabela e já contribuiu com registos de 77 espécies representando 18 novas famílias. Um artigo analisa estes dados (Albert et al. 1999). Além disso, Xiomara Chin do Institute of Marine Affairs, Trinidade & Tobago, forneceu os pesos dos cérebros obtidos durante o seu trabalho de tese (Chin 1996).

Como chegar lá

Clicando no botão Biologia na tabela ESPÉCIES, no botão Morfologia e Fisiologia na tabela BIOLOGIA e no botão Cérebro na janela MORFOLOGIA E FISIOLOGIA.

Agradecimentos

Queremos agradecer a R. Bauchot e aos seus colaboradores terem confiado à FishBase a sua valiosa base de dados e a J. C. Hureau por ter transformado esses dados num ficheiro legível pela equipa da FishBase. Agradecemos também a X. Chin pelos 14 registos de pesos de cérebro de peixes das Antilhas.

Referências

Albert, J., R. Froese, R. Bauchot and H. Ito. 1999. Diversity of brain size in fishes: preliminary analysis of a database including 1174 species in 45 orders, p. 647-656. In B. Séret and J.-Y. Sire (eds.) Proceedings of the 5th Indo-Pacific Fisheries Conference, Noumea, New Caledonia, 3-8 November 1997. Soc. Fr. Ichthyol., Paris, France.

Bauchot, M.L. and R. Bauchot. 1986. Encephalization in tropical teleost fishes and its correlation with their locomotory habits, p. 678-690. In T. Uyeno, R. Arai, T. Taniuchi and K. Matsuura (eds.) Indo-Pacific Fish Biology: Proceedings of the Second International Conference on Indo-Pacific Fishes. Ichthyological Society of Japan, Tokyo.

Bauchot, R., M. Diagne and J.M. Ribet. 1979. Post-hatching growth and allometry of the teleost brain. J. Hirnforsch. 20:29-34.

Bauchot, R., J.M. Ridet and M.-L. Bauchot. 1989. The brain organization of butterflyfishes. Environ. Biol. Fish. 25(1/3):205-219.

Chin, X. 1996. A photographic atlas of brains of common Caribbean reef fishes. University of South Florida. B.A. thesis. 62 p.

Gould, S.J. 1981. The mismeasure of man. W.W. Norton, New York. 352 p.
Daniel Pauly, Rainer Froese e James S. Albert